domingo, 23 de setembro de 2012

Lapidando

Tenho um cigarro aceso na mão. Tive um sonho arrebatador, ainda ligo os pontos, e tento compreender tal baque impetuoso. Seguro-me ao cigarro, este cilindro frágil que não suportaria sequer uma rajada de vento leste. Não há razão, há dependência. E me incomoda, muito. Sonhei com uma pessoa irrisória, pequena, e nunca havia sonhado com ela antes. O seu jeito insensato me estremece o eixo, o meu alicerce. Estava no sítio, entre familiares e gentes que nunca vi, cavalos cintilavam ao longe e eu não fumava, observava-os com olhar de pesquisador, como quem adentrava neste mistério afim de conhecer a crueza do mundo. Hoje é domingo e o tempo ocioso que o impera convida a novas tragadas, posso recusar a entrar neste baile, e de impulso a impulso eu vou lapidando a minha despedida ao fumo. Hoje vou ler bastante e - prevejo! - fumar bastante também. Que as almas boas me perdoem, e que as almas más se desfaçam junto desta fumaça densa, cinza. Como o céu de hoje, onde o sol insiste em descortinar as nuvens. A nicotina é uma visita que chega para um café e decide ficar por todas as seguidas ceias de Natal. Trazendo este presente com embrulho contendo um design preciso, repleto de cores, papel espesso envolto dum plástico que retiramos com destreza, contendo lá dentro mais vinte fugas recheadas de tabaco. Proclamo que - no ano novo! - ela retire-se daqui com seus pés imundos, e vá manchar outros tapetes persas pra lá do quinto dos infernos.

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