quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Eu quero terminar contigo

Refletir sobre esta decidão de largar a nicotina vem solidificando e fortalecendo o meu desejo de dar fim a minha dependência, li um tanto sobre o assunto, além de assistir a diversos vídeos, com depoimentos realmente marcantes e até gloriosos de pessoas que num dado momento inteligente e iluminado de suas vidas, resolveram nunca mais pôr de novo um cigarro na boca. A nicotina é uma droga pesada, a sua abstinência é dita por especialistas como uma das mais sacrificantes diante de outras drogas existentes, segundo eles, mais potente até do que a de cocaína, substância igualmente feroz e auto-destrutiva. Existe o vício físico, o vício comportamental e o vício social. São estas três lacunas que devem ser muito bem refletidas e trabalhadas por quem, assim como eu, deseja imensamente deixar pra trás esse hábito letal para uma saúde dita regular, ou seja, normalizada. O vício físico consiste na chamada fissura que a nicotina proporciona dadas as primeiras horas - ou mesmo minutos - longe dos cigarros. Fissura que, nos primeiros dias de tentativa anti-fumo, se mostra perturbadora, tirando a pessoa do seu eixo central. Ansiedade (extrema), irritação (extrema), taquicardia, baixa auto-estima e muitas vezes até depressão, visto que o nível de dependência é verdadeiramente devastador. O vício comportamental está ligado ao lado psicológico do funcionamento de um fumante, o cigarro fumado durante aquela discussão voraz, o cigarro o qual você se segura após vivenciar uma frustração, o cigarro que pretende preencher aquela carência vivida após se recordar de um ex-amor devido a uma canção que toca, ou alguma notícia que chega através de um amigo, ou mesmo uma lembrança que faz o peito apertar de saudade. O cigarro para esperar um transporte que não chega. O cigarro para "passar o tempo". O vício comportamental são os rituais rotineiros movidos pelo fumo, o cafézinho fresco que convida a uma nova tragada, aquele cigarrinho aceso junto de um chopp.gelado com amigos, o cigarro após as refeições, o cigarro durante o filme, o cigarro antes de dormir, ou logo após acordar. "Obrigações" pautadas pelo fumo diante das suas ações no dia-a-dia. Viver sem cigarro é persistir num alerta que lhe diga ininterruptamente e de forma colossal: Eu decidi largar os cigarros, eu vou abandonar de vez este vício. E escrever estas palavras também é um meio de fugir do monstro horripilante soltando fumaças por boca e narinas chamado cigarro. É um meio também de auto-conhecer o vício e observá-lo por parâmetros antes não enxergados, intensificando as margens de sucesso rumo ao encerramento deste ciclo esfumaçado e escravizante.

"Não é fácil
Não pensar em você
Não é fácil, é estranho
Não te contar meus planos
Não te encontrar
Todo dia de manhã
Enquanto tomo o meu café amargo..." ( Marisa Monte - Não é fácil )

A sensação que me deparo, de fato, é que estou prestes a abandonar uma paixão tórrida e visceral, largar uma companhia, alguém que compreende minhas faltas, minhas fugas, que se permite me escutar a qualquer momento, sem julgamentos ou pesos. A verdade é que abandonar a nicotina te traz uma falta física que definitivamente parece real, alguém que não veio hoje e que estava sempre perto por pelos menos os seis últimos anos. Precisarei me readaptar, buscar forças internas, desafabar, respirar fundo. Será necessário muita força e um punhado de fé. Já fiz a minha promessa, já conversei com Deus e com os outros tantos santos, anjos e serafins, já supliquei as suas energias confortadoras. A verdade é que, a partir de então, toda pessoa que me diga claramente ser ex-fumante ganhará de imediato o meu respeito verdadeiro, a batalha é feroz e o caminho não é simples, não mesmo, mas hei de aportar num pedaço de lugar onde a respiração seja fluída e o ar limpo, e as tosses se dissipem e os aromas sejam bons, nem um pouco parecidos com o escapamento de um automóvel. Onde a falta do cigarro seja completada por experiências renovadoras, felizes, e as semanas se passem sem que seja vital alimentar-se dos mil e tantos venenos presentes naqueles cilindros torpes, desnecessários.

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